A diferença entre preparar o futuro e preparar-se para o futuro

O que mais se vê atualmente são estudos que falam sobre o mundo em transformação e o futuro do trabalho. Não é à toa, neste “chão escorregadio” que transitamos precisamos nos apoiar em tendências e estudos que nos dêem insights do que está por vir.

Crédito Imagem: Artista Alicia Eggert

Por ​Marcelo Cruzato

O que mais se vê atualmente são estudos que falam sobre o mundo em transformação e o futuro do trabalho. Não é à toa, neste “chão escorregadio” que transitamos precisamos nos apoiar em tendências e estudos que nos dêem insights do que está por vir. Com este desafio, participei recentemente de um painel na Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento, 15ª edição do Congresso, abordando o tema “Transformação Digital e Gestão do Conhecimento”, a convite da Presidente da SBGC Brasil, Renata Dalmaso.

Neste artigo, compartilho alguns pontos apresentados e uma breve reflexão sobre o papel do líder de Marketing nas organizações.

A inquietação de falar sobre algo relevante me levou também a pensar meus anos de carreira em Marketing, Inovação e Gestão de negócios. Experiência em projetos, culturas e situações diversas me deram conteúdo e credenciais para poder falar sobre o tema, sugerir melhores práticas, e, em especial, como gerenciar o processo de inovação e ser um líder que prepara o futuro – não apenas que se prepara para o futuro.

Inspirado nas principais competências de um líder pela MIT Sloan, acredito que este é o momento de olharmos além dos resultados numéricos e metas (crescimento das vendas e market share, por exemplo) e, principalmente, desenvolvermos novas habilidades humanas. Mais do que nunca, espera-se deste líder visão para interpretar o que está acontecendo no mercado e priorizar aquilo que faz sentido e merece atenção. Encontrar e direcionar a organização ao verdadeiro propósito, inspirar equipes, e saber dar a medida certa à entrega dos resultados, com eficiência, consistência e menores recursos. Neste contexto, acho muito importante darmos uma pausa para refletir se estamos dando atenção necessária para aprender e praticar estas lideranças essenciais, ou se continuamos dando um foco desproporcional aos desafios do curto prazo.

O líder de Marketing e Inovação, em particular, precisa reconhecer que nestes novos tempos não existem respostas prontas para todos os desafios, e que para elevar o patamar de conhecimento (pessoal e da organização), é fundamental uma mudança de comportamento e processos na dinâmica de trabalho. A forma como fomos ensinados a ver o mundo e solucionar problemas nos negócios precisam mais do que nunca, serem repensados, abrindo-se agora a oportunidade de iniciar algo novo.

Ter disponibilidade para imaginar, ver aquilo que não estamos acostumados não é tarefa fácil. Neste sentido, compartilhei no evento um case de um artista Brasileiro, Jarbas Agnelli, que em 2010 deu vida a um arranjo musical inspirado em uma foto de pássaros numa rede de fios elétricos. Um exemplo simples para ilustrar que pequenas coisas podem tornar-se grandiosas, e a importância de exercitar a imaginação e ver além do óbvio. “Birds on the Wires”, https://www.youtube.com/watch?v=7VxZZzxEzXA

Como você está exercitando a habilidade de imaginar, criar, aprender praticando?

É necessário então observar por outras perspectivas e obter informações complementares ao conhecimento existente. É o que chamei de “momento de estabelecer novos fundamentos “, com algumas caminhos práticos.

Alimentar constantemente a curiosidade. Me refiro a maneiras simples e rápidas de observar os consumidores com um constante “ear-on-the-ground”, trazendo à tona as novas atitudes, comportamentos, valores e relações com a marca e categorias. Quando possível, entender pela neurociência o que não é verbalizado, as emoções implícitas, os sentimentos que estão submersos no iceberg (Sistema 1), em analogia ao trabalho de Daniel Kahneman, Thinking Fast and Slow. Neste caminho, certamente você estará abrindo oportunidades de formar e reconectar a marca e a organização com seu grande propósito, através de histórias mais genuínas e emocionais.

E, assim, visualizar o futuro através de um planejamento estratégico inspirado em processos de Design. Praticados de maneira flexível, ora informal (sem deixar de ser profundo), ora estruturado, estimulam a moldar a cultura da inovação, com a pessoa no centro do processo criativo. Quem vivenciou planejamentos estratégicos de 5, 10 anos, concordará que este é o tempo de repensar e estabelecer mais agilidade e dinamismo ao processo.

Profissionais de Marketing estão vivendo um momento único, com abertura para serem os grandes protagonistas nas organizações. Mais do que nunca, além do gerenciamento básico dos 4P´s e entrega de resultados, agora é o momento de orquestrar com novas habilidades e visualizar o futuro com o foco em inovação e no aprendizado contínuo. Menos amarras, processos mais fluidos e rápidos. É importante também reconhecer que a mudança e o futuro serão construídos de baixo para cima, e que somos responsáveis em dar o tom às organizações, independente de qual estágio de carreira nos encontramos. E cada vez mais, esta jornada de aprendizado precisa estar voltada à construção de habilidades humanas e menos receio de sermos substituídos pela tecnologia.

Sobre o autor:
Marcelo Cruzato: profissional de Marketing e Negócios brasileiro, mestre em Marketing Internacional pela Kingston Business School de Londres. Com ampla vivência no ambiente corporativo, liderou grandes categorias de bens de consumo e marcas globais no Brasil, México e EUA. Apaixonado pelo planejamento estratégico e inovação, tem atuado como mentor de startups e em consultorias, apoiando empresas no desenvolvimento de negócios e para uma gestão mais ágil e direcionada ao crescimento.