O cenário contemporâneo dos Institutos de Pesquisas Aplicadas implica em novos modelos de gestão de pesquisa e desenvolvimento experimental e da inovação para a produção de conhecimento atrelado a geração de produtos (bens e serviços) de interesse social. Este cenário propõe a inserção de abordagens abertas caracterizada pela colaboração em massa, protagonizada pelos indivíduos (pesquisadores) e organizações (institutos de pesquisa).
por Fernando Fukunaga
O cenário contemporâneo dos Institutos de Pesquisas Aplicadas implica em novos modelos de gestão de pesquisa e desenvolvimento experimental e da inovação para a produção de conhecimento atrelado a geração de produtos (bens e serviços) de interesse social. Este cenário propõe a inserção de abordagens abertas caracterizada pela colaboração em massa, protagonizada pelos indivíduos (pesquisadores) e organizações (institutos de pesquisa). *Por Tatiana Takimoto
O conceito de comunidade de prática (CoP) foi cunhado por Etienne Wenger e, em síntese, pode ser esclarecido como um grupo de indivíduos que se reúnem periodicamente, por possuírem um interesse comum no aprendizado e na aplicação do que foi aprendido. Este interesse nasce de uma paixão, de algo que as pessoas realmente querem aprender, não por obrigação, mas por prazer. Nesses encontros, as pessoas compartilham conhecimento, trocam experiências, levam seus problemas e encontram soluções. A amizade e a confiança surgem de uma forma natural. Pode-se afirmar que as comunidades de prática são formadas por indivíduos que se envolvem em um processo de aprendizado coletivo, portanto no domínio de uma atividade humana compartilhada pela comunidade: um grupo de artistas que procuram novas formas de expressão, um grupo de engenheiros que trabalham com problemas similares, um grupo de alunos que definem a sua identidade na escola, uma rede de cirurgiões explorando novas técnicas, um encontro de gestores pela primeira vez ajudando uns aos outros a liderar. O sucesso do aprendizado e das melhores práticas geradas nas CoP chama a atenção tanto do mundo acadêmico quanto do mundo organizacional. Aprender de forma coletiva e praticar o que aprendeu é de grande interesse no cenário competitivo que temos hoje, pois agilizam o compartilhamento do conhecimento e, portanto, facilitam o surgimento de novas idéias. É por este motivo que muitas empresas preocupadas com a inovação, querem tanto trabalhar com comunidades de prática. E como este conceito de tanto sucesso preza pela participação voluntária, muitas organizações buscam então proporcionar um ambiente que seja favorável para que tudo ocorra de forma natural. É importante saber que a participação deve ser aberta, com base nas relações de confiança e será verdadeira quando os membros participarem efetivamente mesmo que somente ouvindo atentamente as informações passadas pelos demais colegas. Logo, de acordo com o conceito cunhado por Wenger, existem diferentes níveis de participação em uma CoP e um erro comum é tentar encorajar todos os membros a participarem de uma forma igual. Devido aos diferentes níveis de interesse esta expectativa não ocorre e os membros acabam se dividindo em três grupos: principal, ativo e periférico. O grupo principal ou central (10 a 15 % dos integrantes) é aquele formado pelos indivíduos mais engajados. Eles são o coração da CoP e guiam a comunidade na sua agenda de aprendizados. O grupo ativo (15% a 20%) são pessoas que freqüentam reuniões, eventualmente participam de fóruns, porém sem a intensidade e a regularidade do grupo central. Os participantes que formam o maior contingente das CoP, de 65% a 75%, fazem parte do grupo periférico e raramente participam. São membros que assistem a interatividade dos que estão nos grupos principal e ativo. Entretanto os autores Wenger, Mcdermott e Snyder, em seu livro Cultivating communities of practice: a guide to managing knowledge, alertam que tais membros não são tão passíveis como parecem. Eles têm seus próprios insights das discussões e os colocam em prática fazendo um bom uso do aprendizado. Esses diferentes níveis de participação são variáveis. Muitas vezes um membro participa ativamente durante alguns meses e depois vai para periferia. Já membros periféricos podem encontrar algum interesse maior e tornarem-se ativos. O ideal para uma CoP é criar atividades que possibilitem todos os participantes se sentirem membros efetivos, apesar dos diferentes níveis em que se encontram. Para Wenger, McDermott e Snyder três componentes estruturais caracterizam as Comunidades de Prática: domínio, comunidade e prática. O domínio é o elemento fundamental de uma comunidade de prática. Corresponde a uma área de conhecimento, interesse ou atividade humana. A comunidade é o elemento central de uma CoP, composta pelos indivíduos, suas interações e pela construção de relacionamentos. E a prática pode ser entendida como o conhecimento compartilhado pelos membros (inclui um conjunto de estruturas, ferramentas, informações, estilos, linguagem, histórias, documentos e compreensão compartilhados pelos membros). Ainda no livro Cultivating communities of practice: a guide to managing knowledge, os autores afirmam que as Comunidades de Prática não apenas gerenciam ativos de conhecimento, como também criam valor de formas múltiplas e complexas, tanto para os membros como para a organização. Estão na melhor posição para codificar conhecimento, pois podem combinar os aspectos tácitos e explícitos do conhecimento. Produzem documentação, ferramentas e procedimentos úteis porque interagem e compreendem as necessidades dos praticantes. Esses produtos fazem parte da vida da comunidade e não são somente objetos à disposição da comunidade. Por fim, a comunidade deve focar no seu maior valor, ou seja, nas pessoas envolvidas. Quanto mais valor a CoP agregar aos seus membros, mais sucesso ela terá. Os eventos, as atividades e os relacionamentos são essenciais neste processo. Os integrantes de uma CoP desenvolvem laços de amizade e cumplicidade que satisfazem a necessidade atávica de fazer parte de um grupo. A constatação da riqueza do grupo não só em conhecimento, mas também em qualidades humanas fortalece o senso de coletividade. Além disso, os integrantes podem desenvolver um sentimento de gratidão, pois a CoP participa da formação intelectual, científica e filosófica de cada membro. As relações pessoais desenvolvidas muitas vezes transcendem o foco da comunidade, viabilizando ações colaborativas nos mais diversos escopos. Em outras palavras, os membros se tornam "amigos" no sentido mais original e amplo da palavra. Este contexto realimenta positivamente o sistema na sua origem, favorecendo mais ainda a troca de conhecimentos entre as pessoas. *Tatiana Takimoto é membro associada da SBGC, Mestranda em Mídias do Conhecimento na Eduação pelo EGC/UFSC, atuamente é professora substituta na Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC e coordenadora técnica de gestão do programa Jovem SBGC. Fale com Tatiana (tatiana.takimoto@sbgc.org.br). |
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