Cenas da Economia do Conhecimento: Conceitos, Estratégias e Práticas

​Olá  KMers,  Como estão? 
 
Neste post sobre conceitos e práticas de gestão do conhecimento (GC), vou contar uma história que aconteceu em 2015 na nossa Comunidade de Práticas de Maturidade em Gestão do Conhecimento e Inovação (CoPs-MGCi). Naquele ano decidimos compreender melhor o futuro para a gestão do conhecimento no decorrer dos próximos 20 anos, contribuindo para a antecipação de objetivos, práticas e tecnologias de GC, e design de estratégias de conhecimento e de GC. Em 2015 eu era o community manager da CoPs-MGCi e minha amiga de longa data, Fatima Oliveira (SEBRAE-SP) era a coordenadora geral. Para este objetivo contamos a com a ajuda de dois especialistas técnicos de gestão do conhecimento, Beto do Valle (Impakt Consultoria), que estabeleceu o método de construção de cenários e conduziu boa parte dos encontros, e André Saito (Kiwaa Educação), que facilitou alguns encontros decisivos para o atingimento dos objetivos. Ao longo do post citarei os demais participantes.

Gostaria de contar em detalhes o processo de construção, que foi muito rico e gerou aprendizado significativo, principalmente nas trocas de experiências entre os membros, mas o espaço é curto, assim quem quiser mais detalhes pode entrar em contato comigo ou com Beto do Valle. Mas acho válido compartilhar a organização dos temas: (1) Cultura, Organização, Sociedade e Negócios, coordenado por Valéria Macedo (UFRJ) com colaboração de Leandro Loss (ex EY); (2) Mercado: Globalização VS Regionalização, coordenado por Fátima Oliveira (SEBRAE-SP); (3) Ferramentas para GC, coordenado por Eduardo Carara (Embraer); (4) Macrotendências, coordenado por Beto do Vale (Impakt Consultoria) com colaboração de Fabio Vernalha (Natura Cosméticos); e (5) Tendência: Conceitos, práticas e Maturidade em GC, coordenado por mim Fernando Fukunaga (SBGC) com colaboração de Soraia Damin (Itaú-Unibanco). Em certo momento, as discussões tornaram-se tão importante que Marcelo Yamada (Logicales), que tinha uma participação ativa nos fóruns do objetivo anual, acompanhando e contribuindo para as discussões de forma remota, sugeriu realizarmos encontros semanais online, e claro que nós topamos. 
 
Bem, vou seguir direto para o resultado! Nós conseguimos elaborar uma matriz classificando as organizações intensivas em conhecimento entre economia concentrada e/ou distribuída e no tipo de dinâmica High Tech e/ou High Touch, conforme podemos observar abaixo na Figura 1. 

​Na época, o Beto teve a ideia de rotular cada quadrante com personagens de filmes de ficção cientifica que trariam em um só nome ou imagem todas as ideias e conceitos por trás daquele determinado quadrante: (a) SKYNET, ícone da economia concentrada e da dinâmica High Tech; (b) KING-KONG, ícone da economia concentrada e da dinâmica High Touch; (c) WALL-E, ícone da economia distribuída e da dinâmica High Tech; e (d) MINIONS, ícone da economia distribuída e da dinâmica High Touch. Para quem não entendeu “logo de cara” sugiro assistir aos seguintes filmes: Exterminador do Futuro (Skynet); King-Kong (king-kong); Meu Malvado Favorito (Minions); e Wall-e (wall-e). Vamos analisar cada cenário!
 
No cenário SKYNET, ver abaixo Figura 2, apresenta o quadrante da economia concentra e da dinâmica High Tech. Temos corporações fortes e gigantescas. As relações são impessoais, pouca interação humana. O trabalho é caracterizado pela padronização e automatização do conhecimento, uso intensivo de inteligência artificial e pouco envolvimento do individuo humano. Os negócios são controlados por grandes grupos, o capital acionário é concentrado, formalidade na condução dos negócios e empreendedorismo interno. A gestão é pautada por decisões estratégicas concentradas e autônomas, com aplicações baseadas em Big Data Analitycs e Inteligência artificial. A tecnologia é comoditizada e orientada a sistematização. 

​A Figura 3, apresenta o cenário WALL-E, ou seja, a tendência da economia distribuída e a dinâmica High Tech. Neste caso temos indivíduos e microempresas fortalecidos e as relações também são impessoais. O Trabalho é baseado no conhecimento automatizado e padronizado. Os negócios giram em torno do empreendedorismo digital, na colaboração para inovação, no compartilhamento de ativos e parceria, e no estabelecimento das moedas virtuais. As variáveis de gestão são parecidas com o cenário SKYNET, considerando que se trata da mesma dinâmica intensiva em tecnologia, as decisões são estrategicamente concentradas e automatizadas, e baseadas em Big Data Analilytics e Inteligência Artificial. A tecnologia também é comoditizada e orientada a sistematização. 

​No cenário KING-KONG, ver abaixo Figura 4, aponta a tendência da economia concentrada e da dinâmica High Touch (intensivo nas pessoas). As corporações são semelhantes com o cenário SKYNET, fortes, controladoras e gigantescas. As relações são humanizadas. O trabalho é caracterizado pela diversidade, é muito envolvente e criativo, e o conhecimento é emergente. Na dimensão dos negócios o capital acionário é distribuído, há a modalidade de venture capital e empreendedorismo interno, é baseado em plataformas de negócios (ex.: Gig Economy). A gestão é baseada pelas decisões criativas dos humanos. E as tecnologias são sociais e depende do individuo e da interação entre indivíduos. 

​E o ultimo, cenário o MINIONS, ver abaixo Figura 5, destaca a economia distribuída e a dinâmica High Touch. Neste caso, assim como no cenário WALL-E, não temos corporações e sim indivíduos fortalecidos baseados em microempresas. As relações da dinâmica High Touch são humanizadas. O trabalho é caracterizado pelo conhecimento emergente, pela criatividade humana, pela diversidade, novos regimes de contrato de trabalho e aumento da multidisciplinariedade, o talento humano é fator altamente valorizado. Os negócios são baseados na colaboração regional e no empreendedorismo (talvez, algo parecido com comercio equitativo), alta quantidade de pequenas inovações emergentes e compartilhamento de ativos. As tecnologias são sociais usadas como suporte ao trabalho e as relações. 

​Certamente este estudo apresenta algumas limitações, deixamos questões de lado. Mas, queremos continuar a pensar nisso. Se você quer colaborar conosco, junte-se a nós e descubra a “exponencialidade” da economia do conhecimento. 
 
E para meus amigos e colegas praticantes e consultores de GC nas organizações, pergunto se é possível alocar suas organizações nos cenários e pensar em alguns designs de estratégias de conhecimento, antecipar mudanças e tecnologias e criação de novas práticas de GC para determinado cenário? Acham possível construir um roadmaptecnológico e/ou do conhecimento? 
 
E para os amigos e colegas pesquisadores pergunto: como vocês enxergam a evolução do conceito de gestão do conhecimento considerando estes cenários? Como podemos construir uma agenda de pesquisa para compreendermos essa evolução? Quais novas práticas de gestão podem ser criadas ou estabelecidas? Como a GC será transformada pela influência do mundo digital (deep learning, inteligência autônoma, gig economy, gêmea digital, entre outros)? 

Autor

 ​Fernando Fukunaga é um entusiasta da economia do conhecimento, dos novos modelos de gestão e métodos participativos de ensino e aprendizagem. É doutorando em administração na PUC-SP. Mestre em Administração pela PUC-SP. Especialista em Conhecimento e inovação. Bacharel em Administração. Designer de Fluxos de Conversação. Atualmente é membro Diretor da Diretoria Executiva da SBGC, responsável pela área de educação em GC, relacionamento com associados e organização do KM Brasil. É Professor nos cursos de especialização de educação corporativa e gestão estratégica de pessoas no SENAC-SP, pesquisador registrado no CnPq pela PUC-SP e Community Manager da Comunidade de Práticas de Maturidade em Gestão do Conhecimento e Inovação.