Psicóloga e Especialista em Gestão do Conhecimento
o diamante e conhecer a si mesmo”.
Benjamim Fanklin
E vida é trabalho / E sem o seu trabalho / O homem não tem honra / E sem a sua honra / Se morre, se mata / Não dá pra ser feliz / Não dá pra ser feliz...”
Historicamente, os humanos primitivos viviam vulneráveis aos ataques dos animais da época. Se não fossem comidos por predadores, tinham que se preocupar com outra ameaça, a fome. Então, a estratégia de sobrevivência era viver em grupo e a vida comunitária trouxe muitas soluções, mas também trouxe problemas. Era preciso fazer força para ser aceito pelo grupo e não acabar marginalizado ou expulso. Nos dias atuais, não precisamos mais caçar, vivemos em diversos tipos de agrupamentos, seja em cidades, bairros, condomínios, comunidades etc.
A comida está disponível de maneira civilizatória, não precisamos essencialmente plantar para colher, já eliminamos muitos motivos que causavam estresse, medo e ansiedade na humanidade, mas existe uma pergunta a ser respondida: Por que então continuamos ansiosos, em diversos contextos da vida? Para responder esta questão é interessante refletir sobre o que diz a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa e Silva: “O nosso cérebro tem um mecanismo projetado para vencer os obstáculos da época dos primórdios, embora a humanidade tenha evoluído bastante, a ansiedade ainda está no nosso DNA”. Se considerarmos que esta afirmativa tem sentido, é possível pensar que os arquétipos associados ao trabalho do homem, ainda nos dias atuais, provocam em sua psique uma relação complexa e, por vezes, dolorida demais.
Após a Segunda Guerra Mundial, ocorreram significativas mudanças no ambiente de trabalho. Os modelos de sistemas da qualidade com as suas técnicas e práticas, apontaram para a importância da satisfação do Ser Humano tanto na condição de cliente como na condição de fornecedor. Alavancada pela era da qualidade, surgiu a grande intensificação do uso da tecnologia de informação para tornar os processos mais previsíveis, mais eficientes e produtivos. Na década de 80 e nas subsequentes, as empresas subiram mais um degrau e levantaram a bandeira da era do conhecimento que já nasceu de mãos dadas com a inovação. Juntas, revolucionaram, novamente, os processos organizacionais. A modernização obrigou as empresas a olharem seus processos de trabalho como algo que precisaria estar em constantes mudanças, sempre de olho no atendimento das necessidades e dos desejos do mercado que, lógico, também evoluiu e tornou-se mais exigente e ávido por soluções e produtos inovadores.
Na era do conhecimento, o trabalhador contemporâneo que acumulou tantos saberes ao longo da história do trabalho, vem registrando muito sucesso em sua atuação, porém os desafios que não param de aparecer, exigem desse trabalhador uma constante evolução e este contexto vem tornando o ambiente de trabalho, em muitas ocasiões, estressante. O medo de não corresponder todas as expectativas vai moldando, no trabalhador, comportamentos que atrofiam sua performance na execução das rotinas ou, ao contrário, adotam comportamentos de dedicação extrema ao trabalho, contraindo um conjunto de sintomas normalmente denominado Síndrome de Burnout. Vive-se uma dicotomia: Se a demissão de um emprego é algo temeroso e dolorido para o trabalhador, vivenciar o estresse cotidianamente também, não é nada prazeroso. Ambas situações podem desencadear doenças psicossomáticas.
Atualmente, é possível perceber iniciativas de algumas empresas que se movimentam em criar mecanismos para praticar um olhar mais atento para a saúde mental de seus trabalhadores. Mas, há muito a aprender sobre como lidar com essas práticas preventivas associadas à saúde mental no ambiente organizacional. Essas práticas não podem ser de responsabilidade exclusiva da organização, na verdade, estas iniciativas são caracterizadas como multidisciplinares e requerem políticas públicas apropriadas, ações de um elenco de instituições e atores afins. Trata-se de um assunto importante que merece um olhar mais atento da ciência, dos especialistas em comportamento humano e da sociedade nacional e internacional.
É perceptível que muitas mudanças introduzidas no mundo da informatização global nem sempre levam em consideração a complexidade da adaptação humana. Yuval Noah Harari tem alertado a sociedade mundial, quanto à importância do futuro dos dados. Em entrevista a um canal de televisão brasileira, Harari demonstrou em sua fala as seguintes preocupações.
“(...) os dados estão substituindo as máquinas como o principal capital e a política enfrenta uma luta para controlar esses dados. (...) Temos milhares de anos de experiência regulamentando a posse de terras e máquinas, mas não temos experiência em como regulamentar a posse de dados”. |
Há especialistas em administração de empresas que dizem que o trabalhador precisa estar presente na empresa de corpo e alma. Em outras palavras isso quer dizer que o trabalhador deve amar o seu trabalho. Mas, o que fazer com esse amor numa eventual demissão? Uma sugestão é lembrar da frase de Vinicius de Moraes, que diz: “O amor deve ser eterno enquanto dura”. Depois dessa reflexão, o indivíduo deve se levantar, sacudir a poeira e procurar um outro emprego ou outra ocupação que gere seu sustento financeiro e emocional, mas nunca deixar de usar uma dosagem de amor na execução do seu trabalho. Sigmund Freud dizia que: “Não posso imaginar que uma vida sem trabalho seja capaz de trazer qualquer espécie de conforto. A imaginação criadora e o trabalho para mim andam de mãos dadas; não retiro prazer de nenhuma outra coisa.” Analisando esta assertiva de Freud, está claro que o problema não está no amor que é direcionado ao trabalho; a questão é: em qual trabalho o indivíduo está depositando o seu amor? A recomendação para o trabalhador, que caberia aqui, seria, ame naturalmente o que você faz, o que você cria, pois a nascente desse sentimento é a alma. É de lá que vem os novos conhecimentos. Há um aviso adicional: Ame, mas não se escravize por esse amor se não houver reciprocidade.
Não são as políticas de trabalho adotadas pela empresa que trará felicidade para o indivíduo. Ao contrário, é o Indivíduo, com a sua maturidade emocional, seu potencial de adaptabilidade e, acima de tudo, com a sua capacidade de enxergar a realidade da vida é quem influenciará a empresa a ajustar suas políticas internas em conformidade com o bem estar dos indivíduos que nela trabalham.
O investimento no “Conhece-te a ti Mesmo” precisa ser um recurso adotado por todos numa organização. A apropriação do autoconhecimento funciona para a gestão do conhecimento como um pré-requisito para implantação de mecanismos e práticas mais amadurecidos. É recomendável que os líderes de equipes busquem conhecer a si mesmos e estimulem também seus colaboradores a buscarem seu autoconhecimento, pois o equilíbrio das emoções é a base para a busca de novos conhecimentos com mais maturidade, sem desperdício de tempo e com mais produtividade e assertividade.
Se a gestão do conhecimento não é uma das estratégias escolhidas para gerenciar a sua organização, não tem problema. Contudo, registra-se aqui uma sugestão importante, cuide da sua organização de forma tão responsável e humana ao ponto de nunca precisar do Algoritmo da vida, recurso digital para detectar tendências suicidas, conforme descrito abaixo:
Palavras que Matam - A SAP, AWS e outras empresas unem esforços no uso de algoritmos para prevenir suicídio. O Algoritmo da Vida, como é chamado esse recurso digital, tem como base a “gramática da depressão”, desenvolvida pela Universidade Harvard, dos Estados Unidos, a partir da análise de palavras-chave usadas por pessoas atingidas por quadros agudos de depressão, muitas vezes levando ao suicídio. Extraído: (Época Negócio, junho/ julho 2021. Pág. 18). |
Elisabeth Vargas, como bibliotecária atuou em empresas do sistema PETROBRÁS por 15 anos, como especialista em Gestão do Conhecimento, elaborou estudos de casos para identificar a existência de ambientes organizacionais favoráveis à inovação. Implantou projetos de aprendizagem em escolas corporativas. Atuou como Diretora de Administração da SBGC, gerente da área de gestão do conhecimento da Serasa Experian. Atua como consultora na área de Gestão do Conhecimento e, como Psicóloga, realiza atendimento clínico usando uma abordagem psicanalítica. No campo social, atuou como examinadora voluntária do Prêmio Qualidade Rio e realiza rodas de conversas com temas relacionados ao autodesenvolvimento.
Fernandez, Márcia Astrês. et al. Prevalência dos transtornos de ansiedade como causa de afastamento de trabalhadores. Revista Brasileira de Enfermagem. 2018, p. 2348 – 2351. Disponível em: https://www.scielo.br/j/reben/a/BJjn3CpqWBMPky8GNNGBCBS/?lang=pt&format=pdf
FREUD, Sigmund. O futuro de uma ilusão o mal estar na civilização e outros trabalhos (1927 – 1931). Rio de Janeiro: Imago, 1969. Vol. XXI. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud.
Harari, Yuval Noah. Roda Viva, São Paulo, TV Cultura. 11.11.2019. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=pBQM085IxOM
HORTA, Mauricio. A epidemia da ansiedade. Superinteressante. fev. 2019. p. 22.
Palavras que matam: SAP, AWS e outras empresas unem esforços no uso de algoritmo para prevenir suicídios. Época Negócios. jun./jul. 2021. p. 18
SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Ansiedade no presente e no futuro. TEDxFortaleza. 28.08.2019. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=BsA2yN37cCg
SILVA, Luiz Alberto Py de Mello. Conexão Roberto D`avila. TV Brasil, 11.03.2012. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=VSxJ7G8XErM