Economia do conhecimento? by Dave Snowden

Traduzo aqui um interessante artigo de Dave Snowden, uma das referências em gestão do conhecimento.

“Traduzo aqui um interessante artigo de Dave Snowden, uma das referências em gestão do conhecimento (clique aqui para ver o artigo original). A tradução é livre e agradeço quem quiser melhorá-la.”

“Eu prometi resumir a minha contribuição para o evento “Kuwait na economia do conhecimento”. O assunto tem sido contornado ao um longo tempo, mas é de suma importância para países produtores de petróleo como o Kuwait. A queda dos preços do petróleo e o risco de, no longo prazo, os combustíveis de carbono perderem importância significa que há uma necessidade de diversificar. Como vários oradores assinalaram o petróleo não é uma maldição, ele deveria ser uma vantagem. Uma pessoa fez referências a Singapura, que não tem petróleo nem nenhum outro recurso natural. O argumento era de que essa ausência forçou o país a ter um foco e energias diferentes. Não esstou certo sobre isso. Singapura é um porto natural e eles foram capazes de tornar-se um centro para o comércio que foi além da mera localização física. Mostraram ser um local seguro para se fazer comércio na região.

Então deixe-me resumir o que eu disse como uma série de pontos de destaque:

  1. A maioria das pessoas no evento estavam falando de uma economia da informação e não de uma economia do conhecimento; mais restrito ainda, eles falaram sobre informações digitais.
  2. Tornar as informações livres e disponíveis é um fator crítico hoje para um estado ou uma cidade. Os dados abertos permitem um rápido crescimento de serviços utilizando as informações e geralmente é uma coisa boa;
  3. Nenhum país (ou empresa) teve sucesso copiando uma história de sucesso anterior. Eles aprendem com elas, mas devem criar algo único em seguida, adaptada ao seu contexto. Não há receitas aqui e expressões como “melhores práticas” deveriam ser abolidas. A oportunidade, durante um período de mudanças como o que vivemos, é ser o pequeno que estabiliza uma nova situação e, assim, consegue encontrar o sucesso de maneiras inesperadas. Eu escrevi anteriormente sobre a teoria do predador dominante (onde ele fala das dificuldades crescentes das grandes corporações de lidar com este ambiente de grandes mudanças).
  4. Em um sistema complexo só conseguimos ter escala através da decomposição e recombinação contínuas, e não por imitação ou agregação. Eu escrevi uma série de posts sobre esta questão da escala, mas precisamos estudar muito este assunto pois esta é uma das questões-chave na criação de uma economia do conhecimento.
  5. Ambos, neo-liberalismo (caos) e planejamento estatal (ordem), falharam. Precisamos de uma nova forma de pensar para lidar com a complexidade e com o aumento da pressão sobre os recursos naturais. Isso significa um entrelaçamento das PME (pequenas e médias empresas) com o governo e um novo modelo de governança. As grandes empresas são tão burocráticas quanto o governo com menos responsabilidades e transparência. Terceirizar o trabalho tanto delas quanto do governo é quase sempre uma má idéia. No entanto usando redes menores ou empresas ágeis dentro de um ambiente articulado e integrado representa uma maneira melhor de lidar com as coisas. Esta articulação em rede é também mais eficiente para lidar com as consequências inesperadas que sempre ocorrem quando lidamos com um problemas complexo.
  6. Precisamos pensar sobre uma cultura mais provocativa (nudging culture) e menos matemática ou engenheira, onde estimulamos as pessoas a partir de objetivos mais idealistas. Deveríamos aprender a gerenciar o potencial evolutivo do presente, parando de definir planos quinquenais (Stalin foi a pessoa que popularizou este tipo de planejamento, não foi?), com KPIs (Key Performance Indicators – Indicadores chave de performance) baseados nas pessoas, independentemente das consequências. Também significa que você perderá algumas oportunidades que se apresentarão no futuro próximo (e não no plano), mas que não poderiam ter sido previstas.
  7. Há uma necessidade de um grupo de elite para estudar a experiência de Singapura. A educação deles é meritocrática na entrada, e elitista em termos de financiamento. As novas elites vão ser generalistas capazes de integrar o conhecimento de humanas com ciência e tecnologia. Não serão tecnocratas. O Kuwait tem uma tremenda oportunidade para construir uma tradição árabe de conhecimento ao invés de seguir uma abordagem tecnocrática, que domina o oeste. Tenho muitas ideias sobre como fazer isso no curto e médio prazo e vou postar mais sobre isso no futuro.
  8. As populações são rede de sensores e não recepientes das benesses dos poderosos. O trabalho que estamos fazendo com SenseMaker® permite que um país se envolva em tempo real com os seus cidadãos sem a mediação de sondagens e pesquisas de mercado. Isto permite um melhor engajamento das pessoas, uma melhor e mais dinâmica realocação de recursos e também uma democratização das políticas públicas.
  9. A motivação intrínseca de cada pessoa é o aspecto chave para a inovação. Esta mania que temos de definir KPIs (todas as pesquisas científicas comprovam isto) destróem esta motivação.
  10. A inovação tem de ser repensada para aproveitar as capacidades existentes e ter um novo propósito: precisamos desenvolver mais a partir do que existe e tentar antecipar menos as necessidades das pessoas”.

Texto originalmente publicado no Blog Inteligencia Empresarial, por Marcos Cavalcante.