José Aureliano Buendía, que junto com sua família fundou e vive na comunidade de Macondo há algumas décadas, no estado de Meio do Nada, está orgulhoso de mais um projeto que implantou: a memória do povoado que o escolheu como liderança está resguardada após os lapsos ocasionados pela epidemia de amnésia que assolou a região do baixo Nada.
José Aureliano, conhecido por seus saberes seculares de gestão de conhecimento, percebeu que precisaria implantar um sistema de GC de modo a garantir a sobrevivência da cultura Macondense. Afinal de contas, as pessoas começavam a esquecer de detalhes do seu dia a dia, dos nomes das coisas e pessoas, além de histórias de seu passado recente e distante. Como contariam para as novas gerações ou visitantes quem eram, do que gostavam, como viviam?
O líder comunitário, com apoio de seu fiel escudeiro e filho Aureliano, e de seus companheiros do Conselho Municipal criaram um grupo de trabalho para a força tarefa que precisava acontecer numa corrida contra o tempo: garantir processos de registro e produção dos conhecimentos antes que perdessem toda sua memória!
Colocaram em prática, então, um plano de ação que denominaram Máquina dos Saberes. Primeiro, partiram da premissa de que precisariam da colaboração do maior número de pessoas possível para que a Máquina tivesse êxito. Depois, partiram para uma etapa de diagnóstico onde identificaram que a comunidade tinha necessidade de não perder: nomes de coisas e pessoas; utilidade e função de objetivos; relações de parentesco e amizades; mapas da região; causos e contos locais. Mapeados os conhecimentos críticos para aquela comunidade, organizaram os times que atuariam em cada grupo de conhecimento a ser organizado: as crianças fizeram dicionários de nomes e funções de todos os objetos que encontravam na comunidade; os jovens desenharam árvores genealógicas e de amizades; os homens adultos registraram storytellings das histórias locais; os idosos produziram mapas e infográficos com informações das ruas, praças, rios e praias de Macondo; as mulheres desenvolveram a engenharia do software que operaria a Máquina dos Saberes. Após instalar os processos de alimentação dessas informações na Máquina, o passo seguinte foi monitorar seu funcionamento e os resultados foram surpreendentes: o sistema fazia uma leitura dos registros feitos pela comunidade e, baseada em data analytics e inteligência artificial, gerava informações em formato de áudio, vídeo e texto que poderiam ser consultadas em uma ferramenta de busca que passou a ser utilizada diariamente pelas pessoas da comunidade para suas atividades diárias.
Com a Máquina de Saberes operando seu sistema de GC a todo vapor, Macondo conseguiu criar e incorporar uma gestão artificial de seus conhecimentos, garantindo a continuidade de sua existência no mapa mundense.
Sobre a autora: Nayara Romero, cientista social de formação e gestora de projetos sociais por paixão, anda se aventurando em temas de gestão do conhecimento.