“Best Efforts will not substitute for knowledge”
W. Edwards Deming, Guru da qualidade
“Risk comes from not knowing what you’re doing.”
Warren Buffett, Investidor, Berkshire Hathaway
As frases dos eloquentes Deming e Buffet abrem o post desta semana, que trata de gestão do conhecimento e internacionalização de empresas.
A internacionalização de Empresas Multinacionais Brasileiras (EMB) é algo razoavelmente recente. Segundo estudo elaborado pela revista Fortune, em 2005 havia apenas três companhias brasileiras entre as 500 maiores empresas do mundo (Petrobrás, Banco do Brasil e Bradesco), ao passo que em 2012 oito empresas brasileiras (Petrobras, Banco do Brasil, Bradesco, Vale, JBS, Itausa, Ultrapar e Grupo Pão de Açúcar) chegaram ao mesmo patamar. Segundo a revista Forbes, que publica a lista das 2000 maiores empresas mundiais, a ascensão das multinacionais brasileiras é ainda mais destacada: se em 2003 apenas três empresas brasileiras estavam entre as 2000 maiores empresas globais, em 2012, 31 empresas brasileiras participavam do seleto grupo de maiores empresas globais.
De acordo com dados do Banco Central Brasileiro, a Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização – SOBEET – estima-se que havia, em 2011, 887 empresas multinacionais brasileiras com alguma atividade no exterior; sendo que o critério para considerar empresa internacionalizada exigia pelo menos 10% de seu capital em unidades externas ou pelo menos US$ 10 milhões em investimentos externos diretos. Em relação às atividades realizadas pelas EMB, a presença externa destas firmas consistia principalmente em escritórios de vendas (31,2%) e unidades fabris ou de prestação de serviços (23.1%). Adicionalmente, 11% de todas as EMB possuíam alguma empresa em outros países.
Como consequência do crescimento recente das EMB, se faz necessário analisar suas fontes de vantagens competitivas. Em uma economia onde a única certeza é a incerteza, apenas o conhecimento é fonte segura de vantagem competitiva. Como consequência, uma das fontes de vantagem estratégica que uma organização pode possuir, em relação aos seus competidores, é a sua Gestão do Conhecimento (GC).
A Gestão do Conhecimento é um tópico importante no estudo de vantagens comparativas entre empresas. As organizações estão expostas a uma quantidade imensa de dados, cujas fontes incluem, por exemplo, relacionamento com clientes e fornecedores, operações internas, processos de fabricação, ações de empresas concorrentes e transações financeiras. Um exemplo de dado é o evento de venda de um produto. Os dados, uma vez tratados de forma a fornecer algum significado, são convertidos em informação, que servem para interpretar a realidade. Um exemplo de informação é o total de vendas de um determinado produto em uma região específica. Por sua vez, conhecimento é a composição de insights, valores e experiências, que permite a obtenção de vantagens competitivas, a tomada de decisões efetivas, a solução de problemas e a criação de inovações.
Os encadeamentos existentes entre dados, informações e conhecimentos permitem o surgimento de uma hierarquia entre eles, chamada de pirâmide do conhecimento, que é apresentada abaixo1. Notem que quanto mais alta a posição na pirâmide, maiores serão o valor, o significado, a aplicabilidade e a participação humana dos conceitos citados.
Como a gestão do conhecimento estabelece processos de captura de dados, transforma estes dados em informação e interpreta a informação de modo transformá-la em conhecimento, percebe-se que GC pode ser um diferencial competitivo para qualquer tipo de empresa, seja ela multinacional ou não.
Alguns autores2 sustentam que empresas multinacionais podem ser vistas como uma rede diferenciada de subsidiárias, na qual o conhecimento pode ser desenvolvido tanto na matriz como nas unidades externas. Deste modo, a vantagem competitiva da corporação multinacional não está baseada apenas no conhecimento gerado pela sua matriz. Outra visão3 do que significa uma empresa multinacional propõe que a vantagem competitiva das multinacionais pode ser baseada também no conhecimento desenvolvido pelas unidades externas e nas transferências entre a matriz e suas subsidiárias.
Ser peixe grande em lago pequeno não é uma boa ideia… internacionalização de empresas
Uma pergunta interessante a ser feita é a seguinte: porque uma empresa busca sua internacionalização? Se por um lado, um dos benefícios mais fáceis de perceber é a busca por novos mercados, podem existir alguns problemas com a expansão internacional das empresas: o processo é, muitas vezes, custoso, arriscado e lento. Em geral, as empresas que se expandem internacionalmente buscam quatro tipos de ativos4:
- Novos mercados consumidores, de modo a aumentar receita, diluir custos fixos em uma base maior de clientes e atingir diretamente concorrentes globais;
- Novos recursos, tais como matéria-prima;
- Eficiência operacional, como por exemplo, sua cadeia logística, que permite à organização melhorar seus processos de produção e distribuição de produtos em nível global;
- Recursos estratégicos, como por exemplo, mão-de-obra qualificada, tecnologia e propriedade intelectual.
Como alguns hábitos teimam em não morrer, deixo três perguntas provocativas para mentes mais curiosas:
1. A empresa onde você trabalha é uma organização que gerencia o conhecimento gerado por ela própria ou pelos seus funcionários?
2. Você conhece alguma empresa que seria a referência na atividade de gestão do conhecimento?
3. O que uma empresa baseada em conhecimento, como por exemplo, de consultoria ou de projetos, deve fazer primeiramente: internacionalizar ou gerenciar conhecimento?
Textos utilizados e seus autores:
1) NONAKA, I. The Knowledge-creating Company. Harvard Business Review, Nov-Dec, 1991
2) BARTLETT, C. A., & GHOSAL, S. Going global. Harvard Business Review, 78(2), 132-142, 2000.
3) BIRKINSHAW, J. Hood, N. & JONSSON, S. Building firm-specific advantages in multinational corporations: the role of subsidiary initiative. Strategic Management Journal, volume 19, Issue 3, pages 221–242, March 1998.
4) DUNNING, J. The eclectic paradigm of international production: a restatement and some possible extensions. Journal of International Business Studies, 19(1),1-31, 1988.
5) BORINI, F. M. & OLIVEIRA JUNIOR, M. M. Transferência de conhecimento em Multinacionais emergentes: survey com as multinacionais brasileiras. Espacios (Caracas), v. 30, p. 13-27, 2009.
Adicionalmente, durante minha preparação para este post eu me deparei com alguns textos importantes em gestão de conhecimento e internacionalização, que gostaria de compartilhar:
CHAFFEY, D. & WOOD, S. Business Information Management: Improving Performance using Information Systems. FT Prentice Hall, Harlow, 2005.
DUNNING, J. Some antecedents of internalization theory. Journal of International Business Studies, 34(1), 108–115, 2003b.
FLEURY, A.C.C & FLEURY, M.T.L. Brazilian Multinationals – Competences for Internationalization. 1 ed. Cambridge, Cambridge University Press, 2011.
GARVIN, D. Building a learning organization. Harvard Business Review, Jul-Aug 93, p.78-91
Fonte: http://estrategiaparatodos.wordpress.com/2013/05/15/multinacionais-brasileiras-e-gestao-do-conhecimento/