Pedro acordou quase duas horas antes do despertador do celular tocar. Ele não estava com insônia, era apenas o seu filho que chorava e ele precisou levantar para atender o pequeno. Por sorte, acalmar a criança não levou mais do que vinte minutos e o garoto voltou a dormir, mas Pedro já havia perdido o sono.
A reunião começou pontualmente às 8:30 e quanto mais Pedro explicava as práticas de GC e os seus indicadores, menos interessadas eram as pessoas na sala. Depois de 40 minutos de discurso Pedro foi interrompido pelo seu chefe que dizia que aquilo tudo era bacana, mas a empresa não via valor no trabalho que vinha sendo feito. Mesmo os indicadores apresentados não eram garantia de que a GC trazia um retorno esperado para a organização. Foram dados mais 60 dias para reverter a situação, caso contrário o programa seria encerrado.
Pedro terminou a reunião arrasado e por alguns momentos pensou em pedir demissão, já que as pessoas para quem ele trabalhava não conseguiam sequer entender a importância de tudo o que ele vinha fazendo, mas ao se lembrar da responsabilidade com o seu filho ele voltou atrás.
Durante o percurso de volta para casa Pedro repassou os diálogos da reunião e uma frase não saia da sua cabeça: “a empresa não via valor”. Na primeira oportunidade naquela noite mesmo ele resolveu rever o seu material, então ele teve o insight de comparar a estratégia da organização com a estratégia de GC que havia sido desenhada. Para a sua surpresa, a estratégia de GC não suportava os objetivos da empresa e, ainda pior, os benefícios da GC para a empresa não eram claros. As abordagens desenhadas focavam exclusivamente em repositórios de documentos que poucas pessoas acessavam, enquanto que o que as pessoas realmente precisavam eram maiores interações com especialistas técnicos.
Pedro entendeu que havia negligenciado as condições necessárias para o compartilhamento de conhecimento e então resolveu rever os mecanismos, práticas e ferramentas de GC que realmente suportavam os objetivos da empresa. O recomeço não foi fácil. Pedro precisou convencer algumas pessoas que estavam céticas quanto à GC, mas aos poucos os resultados concretos começaram a aparecer. O conjunto de novas iniciativas começou a trazer benefícios reais.
Os 60 dias que se passaram após aquela reunião foram de muita dedicação. Pedro adotou práticas ágeis de gestão de projeto para testar hipóteses e também pesquisas qualitativas e entrevistas para entender melhor o contexto. Na sua nova apresentação a diretoria estava muito mais interessada no assunto porque os próprios colaboradores já traziam os benefícios de GC para os resultados da empresa. Pedro, por sua vez, pode explicar em detalhes como a estratégia de GC estava ajudando a execução da estratégia da organização.
*Esta narrativa faz parte das atividades de aprendizagem do Programa SBGC Online: Gestão Conhecimento - Conceitos e Práticas.
Sobre o Autor:
Leandro Loss tem uma carreira desenvolvida com um mix entre mercado e academia. No aspecto, profissional atua há mais de 10 anos em empresas de consultoria com foco na concepção, implantação e evolução de modelos e práticas voltados à Gestão de Conhecimento e Aprendizagem Organizacional. O objetivo destas iniciativas é promover o compartilhamento de conhecimento, suportar atividades de desenvolvimento de carreira e gestão de conteúdo visando o aumento da produtividade dos profissionais. Ele também suporta atividades voltadas a treinamento, capacitação e recrutamento, bem como a divulgação dos serviços da empresa que atua para diversos públicos de interesse. O lado acadêmico foi construído com mestrado, doutorado e pós-doutorado focados em Gestão do Conhecimento e Aprendizagem Organizacional, sempre atuando em projetos de pesquisa em parceria com a União Europeia em temas relacionados a alianças estratégicas.