A Gestão do Conhecimento na Contemporaneidade

A velocidade com que os cenários passaram a se modificar, a percepção de mudança e a reação a essas alterações dinamizaram a compreensão e as respostas ao cenário, e ampliou a magnitude e o alcance das reações dos indivíduos e das organizações.

Essa velocidade tem proporcionado um mundo contemporâneo repleto de inovações e ideias disruptivas, o que amplia a necessidade de adaptação. No entanto, a concepção de que a inovação é a força motriz do desenvolvimento, social e econômico não é nova. Na década de 1930, Joseph Schumpeter, em seu trabalho Capitalism, Socialism and Democracy, tendo um foco no crescimento econômico e comercial, trabalhava o conceito de “criação destrutiva” (destructive creation). Tal abordagem já compreendia a relevância do desejo por inovação como o principal fator de propulsão da economia. A velocidade da informação proporcionou que as inovações se tornassem menos espaçadas, seja dentro de uma noção de temporalidade ou abarcadas no conceito geográfico, afinal, estamos a um clique de alcançar qualquer informação, a qualquer momento, em qualquer local do planeta.

Com esse cenário, a Gestão do Conhecimento passa a receber uma expectativa de resultado considerado estratégico para as organizações. E isso é reforçado quando vemos que área está alocada em setores considerados estratégicos para a organização, sendo contemplados em políticas e diretrizes organizacionais, envolvendo stakeholders considerados imprescindíveis para o sucesso da instituição. Mas o quê é Gestão do Conhecimento?

Considerando a definição de Conhecimento de Davenport e Prusak em que conhecimento “é uma mistura fluida de experiência condensada, valores, informação contextual e insight experimentado, a qual proporciona uma estrutura para avaliação e incorporação de novas experiências e informações. (…)”, sua gestão nada mais é que a sistematização da instituição em incorporar e disseminar os conhecimentos de seus colaboradores a fim de auxiliar na consecução de seus objetivos e de sua missão. É o gerenciamento do ativo capital intelectual, um dos ativos mais importantes para uma instituição, esteja ele devidamente contabilizado ou não, tácito ou explícito, constituído, desenvolvido ou estimulado, por um indivíduo ou pela coletividade, a fim de se alcançar os objetivos estratégicos da instituição. Ou seja, é a sistemática pela qual o conhecimento é identificado, adquirido, desenvolvido, compartilhado e distribuído.

Quando trazemos para uma análise prática, no índice Global de Inovação de 2017, o Brasil figurava na 70ª posição num rol de 127 países pesquisados, sendo o país que menos investe entre os BRICS e outras nações da América Latina. Em média, o país investe 1% do seu produto interno bruto (PIB) em inovação, enquanto Coreia do Sul investe 3,9%, Japão 3,48% e EUA 2,79%. Para piorar, apenas 20% das pesquisas e das inovações são aplicadas pelo setor privado, restando 80% do investimento às instituições públicas de pesquisa, em especial universidades federais (dados da ANPEI). Considerando a baixa aplicabilidade dessas pesquisas e inovações, o Brasil se tornou um país de invenções e não de inovação.

Considerando ainda a supremacia do investimento público em inovações no país, não pode passar despercebido que, ao longo de sua história, o Brasil se notabiliza pela perda de investimento em inovação por não conseguir fazer uma gestão eficiente dos recursos inerentes à ela e, principalmente, por não manter uma estratégia de longo prazo que possibilite a compreensão da relevância do investimento e o próprio desenvolvimento da inovação.

Tendo em vista o supramencionado, os principais desafios para Gestão do Conhecimento e seus profissionais continuam na desmistificação do trabalho, mostrando que iniciativas simples (e pouco custosas) também podem e devem ser vistas como alternativas para programas bem estruturados. Isso precisa ser pautado por métricas específicas para GC fortalecem os trabalhos desenvolvidos e posicionamento institucional no campo de atuação e de seus profissionais, demonstrando ganho de eficiência e os ganhos que ela pode trazer, colocando em perspectiva os diferenciais e as vantagens competitivas que GC pode oferecer às organizações.

Portanto, em tempos de informação em tempo real e do ambiente BANI, a gestão do conhecimento tem potencial para oferecer maior estabilidade, continuidade e perenidade nos trabalhos gerenciais, em especial quando se trata na manutenção a longo prazo de uma política institucional de inovação atrelada a uma estratégia empresarial consolidada e coerente com os desafios da organização e sua cultura.

Por: Rafael Viveiros


Sobre o autor:

Rafael Viveiros é Profissional com experiência nas áreas de Gestão do Conhecimento e Inovação, Relações Institucionais, Gestão e Estratégia Organizacional, e Governança Corporativa.