Parece cada vez mais evidente que a forma como gerimos as organizações não está funcionando. Organizações são lentas, não respondem às mudanças com a velocidade necessária. Organizações desperdiçam conhecimento e talentos das pessoas. A inadequação é evidente também no nível individual: muitos sentem que dão muito de si e, ainda assim, o resultado fica aquém do esperado. O que está acontecendo? Será que chegamos ao limite dos modelos atuais de gestão?
Para o consultor Frédéric Laloux, autor do livro "Reinventando as Organizações", a humanidade vive um momento de grande transformação e, como consequência, um novo paradigma de gestão está nascendo. Ele explica que a humanidade evolui em estágios e, a cada transição, mudam os fundamentos da sociedade: tecnologia, economia, política, ideologia, etc. Com os fundamentos, muda também a forma como nos organizamos para cooperar e produzir coletivamente aquilo que a sociedade precisa. Ou seja, em cada grande era da humanidade surgiu um modelo de gestão que corresponde à visão de mundo e ao modus operandi da época.
O mais interessante no livro de Laloux são os detalhes de como essas empresas reinventaram muitos dos fundamentos da gestão: estrutura organizacional, tomada de decisão, compensação e incentivos, gestão de desempenho, fluxos de informação, etc. Por exemplo, a Buurtzorg, uma organização criada em 2006 para oferecer home care na Holanda, emprega hoje mais de 9 mil enfermeiras praticamente sem estrutura hierárquica e unidades corporativas centralizadas. Na FAVI, uma fundição de autopeças francesa, os funcionários de linha definem o volume de produção e decidem sobre investimentos em novas máquinas. Na Morning Star, uma processadora de massa de tomate americana, os funcionários propõem e decidem seus salários.
Essas práticas são sinais de uma tendência ou são pontos fora da curva que não são generalizáveis? Podem ser aplicadas em outras organizações ou são específicas demais, só funcionaram nesses casos? Ainda é cedo para saber, mas vale a pena prestar atenção. Só saberemos se é um novo modelo ou não à medida em que testarmos suas premissas, seus conceitos, suas práticas. O que não podemos fazer é ficar acomodados enquanto vemos organizações com práticas obsoletas afundarem.
Para saber mais:
Artigo: The future of management is teal - Strategy+Business, 6/7/2015
Artigo: Reinventando organizações - Nei Grando, 20/1/2015
Vídeo: Reinventing organizations - Frédéric Laloux, 30/8/2014
Autor:
André Saito é especialista em gestão do conhecimento e inovação e atual presidente da SBGC.
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