Richard em vitórias pelo conhecimento

Acordar cedo, tomar café, ir para a escola, todo dia.…. Todo dia…
Aprender matemática, português, química… Para quê? Richard queria mesmo era jogar bola! Sempre sonhou em ser um grande jogador de futebol, mas esse não era nem de perto o sonho dos seus pais para a vida dele. Para fazer o que mais sonhava, Richard precisava tirar boas notas e somente após apresentar o primeiro boletim do ano, ele poderia jogar bola nas horas vagas.

Descobriu uma escolinha perto da sua casa, em que o time principal era composto por jovens de baixa renda. Meio tímido, apresentou-se ao técnico e declarou seu grande sonho a ele. O professor João tinha porte atlético e até intimidava com sua altura – bem certo que seriam necessários alguns Richards para dar um professor João. Sem se intimidar, cheio do seu desejo de jogar bola, Richard pediu uma oportunidade de treinar na escolinha, à qual foi aceita, pois não só de sonho era feito o rapaz: ele também tinha talento. Após um teste, o professor identificou um verdadeiro tesouro escondido.

O tempo foi passando e equilibrar as rotinas da escola e dos treinos foi ficando cada vez mais desafiador. Sua paixão pelo esporte foi aumentando e o seu técnico tinha uma grande responsabilidade nisso. Richard o admirava pela habilidade em liderar aqueles jovens. Mesmo sem muitas condições, eles estavam ali em todos os treinos, religiosamente. O professor tratava o time como se os estivesse preparando para uma guerra: sabia exatamente as competências e fragilidades de cada um. Nas reuniões pré-treino, fazia questão de mostrar a missão do time. Segundo ele, nenhum esforço valeria a pena se não fosse para alcançar aquela missão! Por vezes, levava a garotada para momentos que declarava ser a socialização do time.

Porém, nem tudo são flores. O mundo pareceu desabar quando o grande mestre informou que estava com uma doença incurável. A expectativa dada pelos médicos era de que lhe restavam alguns meses de vida. E agora? O que seria daquele time de sonhadores, logo agora que estavam a um ano do início do campeonato que poderia mudar suas vidas?
Richard se aproximou ainda mais do técnico na tentativa de identificar o que poderia fazer para mudar aquela realidade. Ele sentia que poderia fazer algo. Já o mestre sabia que, embora todo o time possuísse grande habilidade prática, o único capaz de gerenciar o grupo era o calouro da galera, pois, além de ter tido a feliz sorte de ter mais acesso ao conhecimento, tinha algum diferencial em liderança. Era o início de uma nova etapa da vida de Richard. A conversa começou a se desenrolar quando João revelou que o grande segredo para conectar o time, tanto entre os integrantes, quanto em relação à missão, era o conhecimento. Enquanto falava, João entregou a Richard uma caixa com artigos e livros sobre Gestão do Conhecimento.

Eles passaram o tempo que restava ao técnico entre teoria e prática de GC. A teoria era repassada por meio de mentoria e com base no estudo do material; já a prática, era a própria aplicação na gestão da equipe. Richard seguiu avançando com leitura e prática, identificando as etapas de identificação, criação, compartilhamento, armazenamento e aplicação do conhecimento, conhecendo também o modelo SECI, de Nonaka e Takeuchi. Avaliava e monitorava a cultura organizacional do time, tudo conforme as orientações do técnico e do grande manual, que era o modelo de referência da Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento.

Aos poucos, Richard foi assimilando aquele conteúdo muito mais facilmente que aqueles que havia visto na escola. Antes de partir, João disse a Richard que realizar aquele trabalho era desafiador, mas que tinha certeza que seria gratificante e, por fim, lembrou-o que estava nas suas mãos a chance de propiciar a mudança de vida daqueles jovens talentosos. O grande mestre do time se foi, mas deixou um legado de conhecimento e motivação ao seu substituto e, com isso, foi possível garantir a perenidade das atividades do grupo.

O aprendizado rendeu não somente a vitória no campeonato, mas também muitas outras. O time passou a ser objeto de estudo de muitos especialistas. O técnico recebeu, inclusive, um convite para realizar uma apresentação no mais famoso congresso da área, o KM Brasil. Pela primeira vez se soube de um caso de tanto sucesso em aplicação da Gestão do Conhecimento em times de futebol. Com a divulgação midiática, vários times europeus passaram a utilizar as estratégias de análise e até mesmo o modelo de referência da Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento na gestão de seus times. Em entrevista, Richard agradeceu ao grupo pelo empenho e, em nome de todos, dedicou a realização do sonho, bem como o alcance dos objetivos estratégicos do time, ao grande mentor de todos, o professor João, que foi o grande visionário de tudo o que estava acontecendo. À essa altura, não se falava mais em dificuldades. O planejamento estratégico do time foi se aperfeiçoando e, com isso, as práticas de GC também.

Sobre a autora:
Camila Gomes é ​Doutoranda em Ciência da Informação (IBICT/UFRJ). Mestre e Arquivista (UnB). Especialista em Gestão de Documentos e Informações e responsável pela Gestão do Conhecimento da Telebras.

Por Camila Gomes